Sao Paulo / SP - quarta-feira, 24 de abril de 2024

Estenose de Uretra

UTILIZAÇÃO DA MUCOSA ORAL NO TRATAMENTO DA ESTENOSE DE URETRA.

 

Dr. Sérgio  Ximenes

Chefe do Setor de Cirurgia Uretral da Unifesp/EPM

 

 

INTRODUÇÃO

 

Uretrotomias repetidas, uretroplastia aberta, sessões de dilatação programadas, alguns episódios de retenção urinaria e finalmente a cistostomia. Esta é a historia que os pacientes contam quando chegam aos ambulatórios especializados em cirurgia de uretra. O paciente acometido de estenose uretral é via de regra um peregrino.

Nos últimos anos, varias técnicas vem sendo descritas e utilizadas por diversos centros.

A reconstrução uretral em tempo único com a utilização de enxertos ganhou grande avanço com as publicações sobre o uso de mucosa oral na reconstrução uretral (1) (2) (3) (4). A utilização de outros tipos de enxerto como pele retroauricular ou prepúcio não tem mostrado os mesmos resultados (5).

 

 

MUCOSA ORAL NO TRATAMENTO DA ESTENOSE DE URETRA.

 

A mucosa oral é o enxerto preferido do urologista desde os primeiros trabalhos descrevendo a sua utilidade (1). As suas principais características são a facilidade de obtenção, mínima contratilidade e ausência de cabelo. Ela apresenta um epitélio rico em fibras de elastina e uma lamina própria fina e bem vascularizada.

A mucosa oral permite uma certa liberdade ao urologista durante o procedimento, podendo decidir a técnica adequada para cada caso conforme a situação apresentada no intraoperatorio.

A mucosa oral pode ser utilizada em qualquer porção da uretra, dando-se preferência à uretra bulbar pela boa irrigação proporcionada pelo corpo esponjoso da região. Ela pode ser posicionada de varias maneiras: ventral, dorsal, ambas, lateral ou em combinação com anastomose termino-terminal (6).

 

 

RESULTADOS.

 

A uretroplastia anterior apresenta índices de sucesso que superam 85% nas diversas series publicadas (5) (7) (8) (9) (10). A possibilidade de recidiva existe ate 10 anos depois da uretroplastia. Os resultados respeitáveis são aqueles de seguimento de no mínimo 5 anos. As técnicas de substituição de tecidos tendem a deteriorar com o tempo (11).

Existe, porém um pouco de dificuldade para a definição dos critérios de sucesso. Alguns autores consideram falha do tratamento qualquer necessidade de manipulação após a uretroplastia como dilatação uretral ou uretrotomia interna. Outros consideram que a necessidade de dilatação uretral não deve ser considerada como falha, dependendo da freqüência com que é realizada (12).

 

 

CONCLUSÕES.

 

A cirurgia de reconstrução uretral apresenta muitas particularidades, porém com as técnicas disponíveis no momento, podemos atingir altos índices de sucesso.

A utilização da mucosa oral tem se mostrado bastante eficaz até o momento e deve ser o enxerto de escolha para esta finalidade.

O urologista que se propõe a tratar estenose de uretra deve estar preparado para realizar diversas técnicas, e utilizá-las de acordo com a situação apresentada no intraoperatorio. O paciente deve ser avisado de todas as possibilidades de abordagem, inclusive para uma cirurgia em dois tempos caso as condições locais não permitam um fechamento primário.

 

 

REFERÊNCIAS.

 

 

1. Burger RA, Muller SC, El-Damanhoury, Hohenfellner R. The buccal mucosa graft for urethral reconstruction: a preliminary report. J Urol, 147:662-4, 1992.

2. El-Kasaby AW, Fath-Alla M, Noweir AM et al. The use of buccal mucosa patch graft in the management of anterior urethral strictures. J Urol, 149:276-8, 1993.

3. Morey AF, McAninch JW. When and how to use buccal mucosa for urethral reconstruction. Urology, 48:194-8, 1996.

4. Venn SN, Mundy AR. Early expirience with the use of buccal mucosa for substitution urethroplasty. Br J Urol, 81:738-40, 1998.

5. Webster GD, Brown MW, Koefoot RB, Sihelnick S. Suboptimal results in full thickness skin grafts urethroplasty using a expenile skin donor site. J Urol, 131:1083-3, 1984.

6. Russel RH. The treatment of urethral stricture by excision. Brit J Surg, 11:27,1914

7. Morey AFand McAninch JW. Technique of harvesting buccal mucosa for urethral reconstruction. JUrol, 155:1696-1697, 1996.

8. Barbagli G, Selli C, Tosto A, Palminteri E. Dorsal free graft urethroplasty. JUrol, 155:123-126,1996.

9. Andrich DE and Mundy AR. Substitution urethroplasty with buccal mucosal-free grafts. JUrol 165:1131-1134, 2001.

10. Barbagli G., Palminteri E.and Rizzo M.: Dorsal onlay graft urethroplasty using penile skin or buccal mucosa in adult bulbouretrhral strictures. J Urol 160:1307-1309,1998.

11. Andrich DE., Dunglison N.,Greenwell TJ.,Mundy AR. The long-term results of urethroplasty. J Urol, 170:90-92,2003.

12. Pansadoro V, Emiliozzi P, Gaffi M, Scarpone P. Buccal mucosa urethroplasty for the treatment of bulbar urethral strictures. J Urol, 161:1501-1503,1999.